Murillo de Aragão
Circula em Brasília informação que atribui ao ex-presidente
Lula um conselho irônico dado ao presidente da Câmara: Eduardo Cunha (PMDB)
deveria erigir um busto em homenagem à presidente Dilma Rousseff. Expressaria
justa gratidão pelo modo como o governo tratou os parlamentares, no primeiro
mandato da presidente, que resultou no estímulo ao crescimento da liderança de
Cunha no Congresso e tudo o que ele representa hoje em matéria de poder
político.
O fenômeno foi ampliado com os atropelos da campanha
eleitoral e a completa e desastrada coordenação política no início do Dilma 2.
Além de reforçar o sentimento autonomista da Câmara, a nova realidade gerou uma
longa sequência de derrotas concretas para o Poder Executivo.
Para fechar a explicação, criou-se dentro do Congresso uma
ojeriza ao PT que mistura mágoa da campanha eleitoral com rejeição à arrogância
no trato com aliados. Tais sentimentos estimulam sistemáticas ações de
autonomia e repulsa às políticas governamentais, gerando um processo de
retaliação que paralisa o Executivo. A situação só não é pior para o governo
por causa do apoio condicionado do PMDB ao Planalto. O PT no Congresso é uma
força isolada que navega ao sabor dos acontecimentos.
A partir da combinação dos vetores mencionados, o Congresso
resolveu usar as emendas constitucionais, que não dependem de veto
presidencial, para emparedar o Poder Executivo. Foram aprovadas duas que
desagradaram bastante ao governo e reduziram de modo concreto o poder da
presidente: a PEC do Orçamento Impositivo para emendas parlamentares e a PEC da
Bengala, sobre o adiamento da aposentadoria compulsória de juízes de tribunais
superiores.
Outras estão a caminho tratando sobre os mais variados
temas. O Congresso discute seriamente como influir na nomeação dos presidentes
das estatais. Avança com a questão da terceirização e quer reduzir, via emenda
constitucional, o número de ministérios. Há propostas também com o objetivo de
alterar o pacto federativo de forma a socorrer a crise financeira de Estados e
municípios. É uma nova etapa política que se caracteriza como
semiparlamentarista, na qual o Executivo cedeu a iniciativa da elaboração da
agenda legislativa ao Congresso, fato inédito na recente experiência da
redemocratização.
Como bem disse o jornalista José Casado, em artigo publicado
em “O Globo”, na semana passada, parece paradoxal que o Congresso, que está
seriamente ameaçado pelas investigações do petrolão, resolva peitar o Poder
Executivo e dar tamanha demonstração de força, nunca vista desde a redemocratização
do país.
Tal fenômeno decorre da profunda inabilidade política ao
longo do governo Dilma 1, época em que o Congresso foi seguidamente desprezado
pelo governo. Nunca houve, no Dilma 1, real vontade de fazer a pequena política
nem qualquer cuidado em checar se os caciques partidários estavam entregando o
prometido à base. O desprezo e a desatenção fomentaram, entre os parlamentares,
um sentimento de rebelião muito bem capitalizado por Eduardo Cunha.
No Senado, o sentimento era o mesmo, mas em menor proporção.
Todas as lideranças do PMDB, que controla a casa, foram atingidas por algum
tipo de agravo vindo do Palácio do Planalto. A devolução, pelo senador Renan
Calheiros, de uma medida provisória que tratava das desonerações foi a abertura
da caixa de ferramentas. Outras virão e farão do Legislativo de hoje o mais
independente em relação ao governo da história política do país.
Desculpem, mas não vejo independência no congresso, existe um conflito de interesses entre os dois partidos que comandam o executivo, sendo que um deles comanda também o congresso.
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