Algumas opiniões de Larry Rohter sobre fatos e pessoas ligados ao PT, publicadas em seu livro “Deu no New York Times” (íntegra da matéria da Veja sobre o livro, aqui). Faz tempo, mas vale a pena.
Márcio Thomaz Bastos
“Depois, muitos de meus colegas na imprensa brasileira
retrataram Bastos como o líder sensato e cheio de princípios que havia
habilmente costurado uma resolução para uma crise desnecessária. Não partilho
essa opinião. A meu ver, o comportamento de Bastos quando retornou da Suíça foi
tortuoso e ficou aquém dos padrões éticos exigidos dele como o principal
representante legal do país. Ele tinha sido advogado pessoal de Lula antes de
ingressar no ministério, e, como ocorreu depois, durante a crise do mensalão de
2005 e 2006, agiu não para defender os interesses mais amplos da nação brasileira,
mas para favorecer os interesses partidários mais estreitos de seu antigo
cliente e do Partido dos Trabalhadores. Para mim, o verdadeiro herói não
louvado do episódio, se é que houve um, foi Sérgio Cabral, que na época era
senador pelo estado do Rio de Janeiro, e hoje é governador desse estado e um
aliado de Lula. Sem me conhecer pessoalmente, mas reconhecendo que estava em
jogo um princípio importante, ele entrou com um pedido de habeas corpus para
evitar minha expulsão”
Marco Aurélio Garcia
“Em sua função como
conselheiro de Lula em assuntos de segurança nacional e política externa,
Garcia, ex-professor universitário, parecia se ver como uma espécie de Henry
Kissinger tupiniquim, um mestre da realpolitik. A realidade, contudo, é que ele
parece mais um Renato Aragão da diplomacia, um trapalhão cujo principal talento
é bagunçar as coisas”
Lula e Bush
“As
semelhanças de Lula com George W. Bush têm mais a ver com caráter e
personalidade. Como Bush, Lula não parece ter muita curiosidade intelectual.
Ele não gosta de ler relatórios, muito menos livros, tem uma ideologia estreita
que impede que novas experiências mudem sua perspectiva, tinha muito pouca
experiência do mundo fora das fronteiras de seu próprio país antes de assumir o
governo, e disse algumas coisas notavelmente ingênuas e desinformadas enquanto
viajava pelo exterior. Ambos maltratam sua língua nativa, mas ambos são tidos
como calorosos e cativantes em situações de contato pessoal. Talvez isso
explique a afinidade que eles parecem ter desenvolvido um pelo outro: apesar de
suas diferenças ideológicas, parecem reconhecer um no outro espíritos aparentados.
De nenhum dos dois, contudo, pode-se dizer que tenha crescido em estatura ou
credibilidade enquanto ocupava o cargo”
Oscar Niemeyer
“Outro exemplo de um aspecto da cultura brasileira elogiado
muito mais do que ele provavelmente merece é a obra do arquiteto Oscar
Niemeyer. Sei que isso pode soar chocante, porque há um consenso quase
universal aqui no Brasil de que Niemeyer é um gênio. (...) Deixando de lado a
política stalinista de Niemeyer, que é execrável, há uma contradição
fundamental e irreconciliável entre o que ele professa e a obra que ele
produziu. Ele afirma querer uma sociedade baseada em princípios igualitários,
mas sua arquitetura, para usar a linguagem do mundo da computação, não é
user-friendly. Ao contrário: ela é profundamente elitista e mesmo egoísta,
concentrada principalmente em fazer declarações grandiosas e eloquentes por si
mesmas, para satisfação de Niemeyer e seus admiradores, mesmo que cause
desconforto ou inconveniência ao usuário.”
O esquema nas prefeituras petistas
“A atividade ilegal
de levantamento de dinheiro em Santo André não era um caso isolado, como
afirmavam os líderes do partido, mas era antes parte de um esquema generalizado
para acumular uma grande soma em caixa 2 para a campanha, para contrabalançar o
apoio da comunidade empresarial aos tucanos. Tinham sido dadas ordens a todos
os prefeitos do PT, minha fonte me relatou, para levantar dinheiro por todos os
meios possíveis, e cada município havia recorrido a um mecanismo um pouco
diferente para cumprir sua cota. Em Santo André eram as empresas de ônibus,
como havia ficado claro na investigação do assassinato de Celso Daniel. (...)
Em Campinas, onde o prefeito, Antonio da Costa Santos, o ‘Toninho do PT’, tinha
sido assassinado quatro meses antes de Celso Daniel, era o superfaturamento de
obras públicas e de contratos de estacionamento. E em Ribeirão Preto eram os
contratos de coleta de lixo. ‘Ribeirão Preto também?’, perguntei, um pouco
chocado, mas no mesmo instante percebendo a importância do que ouvia. Estávamos
falando obviamente da época em que Antonio Palocci era prefeito lá, e agora,
como ministro da Fazenda, ele se tornara o símbolo da adoção por Lula da
responsabilidade fiscal”
O caso Celso Daniel
“Enquanto fazia
reportagens em São Paulo no começo de 2004, eu tinha entrevistado dois dos
irmãos de Celso Daniel, um dos quais tinha se escondido depois de receber
ameaças de morte. Bruno e João Francisco Daniel disseram com toda a clareza
que, de acordo com o que seu irmão havia contado a eles, os membros mais
importantes do PT não apenas sabiam do esquema de corrupção que provocou sua
morte, como haviam desempenhado um papel ativo em sua operação. Além disso,
eles me disseram, esses membros do PT tinham confirmado para Bruno esse papel.
Em resultado disso e de outras entrevistas, minha reportagem incluía um
parágrafo, mais ou menos na metade do texto, que imediatamente disparou o
alarme no governo e no partido governante.
‘Pouco tempo depois do enterro de Celso, Gilberto Carvalho
me contou que tinha feito várias entregas em dinheiro vivo ao partido e que, em
uma ocasião, ele ficou apavorado porque estava transportando mais de 600 000
dólares em uma maleta’, disse Bruno Daniel na entrevista. ‘Ele me contou que
entregava o dinheiro diretamente a José Dirceu, e foi isso que eu disse aos
promotores’.”
Genoíno e a guerrilha do Araguaia
“As entrevistas com Genoíno, que parecia
sempre achar a imprensa estrangeira insuficientemente respeitosa, eram sempre
delicadas, e nenhuma delas foi mais delicada que esta. Eu entrevistara Genoíno
várias vezes no passado, e ele sempre mostrara impaciência comigo e com minhas
perguntas, que ele obviamente julgava serem especialmente impertinentes. Mas
esta estava fadada a ser uma situação especialmente sensível, dada a história
pessoal dele. Ele era tão suscetível a fofocas de que se tornara um dedo-duro sob
tortura e revelara informações que comprometiam seus companheiros militantes
que tinha até escrito um artigo de jornal negando os boatos”
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