terça-feira, 28 de outubro de 2014

Ricardo Setti: “Democratas, como eu, aceitam sem hesitar o resultado das urnas.”

Faço minhas as palavras do meu xará.

Dilma ganha e é a presidente de direito - mas novo mandato será manchado por uma campanha indigna

Democratas, como eu, aceitam sem hesitar o resultado das urnas.

Dilma Vana Rousseff, 66 anos, está reeleita presidente da República Federativa do Brasil, depois de obter 51,64% dos votos do eleitorado contra 48,36% atribuídos ao candidato da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB).

Dilma permanece ao leme do Palácio do Planalto, porém, com um mandato manchado por uma campanha indigna de uma chefe de Estado, baseada no terrorismo eleitoral, de um lado, e, de outro, numa espantosa sequência de ataques sórdidos ao adversário num grau que jamais ocorreu desde a volta das eleições diretas para a Presidência, em 1989.

A presidente colocou em dúvida que Aécio mantivesse programas sociais que beneficiam dezenas de milhões de brasileiros, como o Bolsa Família ou o Minha Casa Minha Vida, contra as sucessivas e formais garantias do adversário de que continuariam e seriam aprimorados. Se Dilma apenas colocava em dúvida, militantes do PT e partidários espalhavam a mentira como sendo verdade por todo o país, especialmente no Nordeste, lançando mão de todos os meios possíveis - desde cartazes e carros de som até as redes sociais.

Algo semelhante ocorreu com a suposta intenção de Aécio de sufocar os bancos públicos, como também se distorceram as intenções do candidato quando a presidente alegava que prováveis “medidas impopulares” pretendidas por Aécio na economia seriam - como se fossem sinônimos - “medidas contra o povo”. Demagogia baixa e barata, já que apenas governantes que entram para a história ostentam a coragem de adotar medidas impopulares do ponto de vista eleitoral, mas necessárias para corrigir rumos da sociedade ou da economia, pensando não na eleição seguinte, mas nas gerações futuras.

Além do terrorismo eleitoral, também foi coisa feia a “desconstrução” dos dois governos de Aécio em seu Estado, Minas Gerais (2003-2010), com acusações inteiramente falsas sobre supostos “desvios de recursos” da saúde, entre outras baixarias.

O pior, no entanto, acabaram sendo as insinuações feitas por Dilma, inclusive em debates presidenciais, sobre a vida pessoal do adversário - a senha para campanha suja, capitaneada do alto de palanques por um ex-presidento Lula que parecia possesso, segundo a qual o candidato tucano tem o hábito de ser violento com mulheres, de beber demais (este ponto Lula, pisando em terreno perigoso para ele, se absteve de tocar) e tomar drogas.

Embora derrotado, Aécio sai da campanha imensamente maior do que entrou.

Aquele que a certa altura da caminhada se viu escanteado para um terceiro posto nas intenções de votos pelos institutos de pesquisa quando a morte trágica de Eduardo Campos (PSB) fez entrar na campanha a candidata Marina Silva, começou a ser abandonado por companheiros e viu temporariamente minguar contribuições financeiras, deu uma inédita, extraordinária volta por cima.

Obteve a espetacular votação de pouco mais de 51 milhões de votos dos brasileiros - em números absolutos, quase a votação recebida por Lula quando se elegeu em 2002 - e, entre outras proezas, foi o candidato mais votado em qualquer eleição em todos os tempos no maior Estado brasileiro, São Paulo - recebeu 15,2 milhões de votos, 3 milhões mais do que o governador tucano Geraldo Alckmin alcançou para vencer a reeleição já no primeiro turno e quase dois terços dos paulistas que compareceram às urnas.

Sai da eleição como o mais forte líder de oposição do país desde a redemocratização, em 1985 - como nada ocorre por acaso, um retorno à democracia no qual seu avô, o Presidente Tancredo Neves, cumpriu papel fundamental.

Um líder com um cartel fabuloso de votos, uma postura de firmeza diante do lulopetismo e um programa de governo moderno e coerente. Com apenas 54 anos de idade, é, desde já, o nome da oposição para 2018.

5 comentários:

  1. (argento) ... e desta "campanha" surgem novos FATE! - de playboy empedernido a 48% dos Votos Válidos ... do "discurso de posse da presidenta "já que vocês pediram mudanças, o partido as fará"

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  2. Aceitar o resultado das urnas não faz esquecer os fatos, existe uma situação de impeachment tomando forma e peso. Se a eleição fosse no ano que vem, o tema atual seria exatamente o mesmo, então não é aconselhável confundir o tema do impeachment com o resultado das urnas.

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1539566-base-aliada-de-dilma-articula-nova-cpi-da-petrobras-para-proximo-congresso.shtml

    http://oglobo.globo.com/brasil/executivo-primeiro-empresario-fazer-delacao-premiada-no-caso-petrobras-14385520

    Veja que tem mais um disposto a entregar o esquema e a própria base aliada está se preparando para governar sem o PT.

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    1. "Aceitar o resultado das urnas não faz esquecer os fatos."

      Claro que não. Essa vitória da Dilma, que não é de Pirro, como Constantino disse, de certa forma fortalece a oposição, não só pela significativa votação de Aécio, mas também por confirmar definitivamente que o PT não consegue nada mais que comprar votos e explorar o Estado indevidamente como patrocinador de campanha.

      O problema é que, à exceção de Aécio e de meia dúzia de gatos pingados, ninguém mais enxerga o óbvio ululante, ou seja, a limitação dos petralhas em comprovar competência em pelo menos uma área de atuação do poder público - qualquer que seja ela o PT é inepto -, recorrendo sempre à mentira e à corrupção para tentar mostrar serviço.

      A oposição se esquece que sistematicamente que o poder do PT não é caso de política, mas sim de polícia, e deixa passar 99% dos casos em que a Justiça seria o meio mais adequado para combater essa quadrilha.

      Isso, sem falar na desunião do próprio PSDB, onde os egos inflados são maioria, sem contar quando não há interesses escusos, regionais, em manter o partido fraco e frouxo, como no Rio de Janeiro.

      Serra, Alkmin e FHC, hoje são verdadeiros estorvos para quem espera alguma oposição decente do PSDB. Por causa das suas vaidades o nome de Aécio foi deixado de lado na campanha presidencial em função da defesa dos seus próprios legados, numa demonstração clara que suas filiações ao PSDB só servem para constar, em detrimento da união em torno de uma objetivo.

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    2. Eu estava curioso para saber qual seria o primeiro intelectual de almanaque de farmácia que iria dizer que foi uma vitória de Pirro. Parece que o Constantino chegou na frente.

      Não foi vitória de Pirro por que a derrota significaria o fim do PT, mas a eleição deu sobrevida ao PT. Eu prefiro dizer que a derrota foi adiada, teve apenas mudança de armas e realinhamento de adversários. A base aliada, que nunca foi homogênea, agora tem como prioridade não afundar com o PT, ao invés de salvar o PT. Sinto cheiro de fritura no ar, resta saber quem será fritado, se os corruptos ou o estado de direito.

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    3. Dizer que a reeleição da Dilma foi uma "Vitória de Pirro" é mais uma lamentação da coleção de quem não sabe perder. O PT não vai nem se abalar caso a oposição não parta definitivamente para a guerra, cobrando da Justiça o que tem que ser cobrado. E é muita coisa. É até fácil e óbvio.

      A única coisa que não pode é ficar discutindo o sexo dos anjos no âmbito do Legislativo. O PT, hoje, tem o melhor time de advogados do País, e é graças a isso que se mantém no poder. Cabe à oposição constituir ilustres causídicos a altura.

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