quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Um pouco de História: Pedro II e Alexander Graham Bell


Em 1876, a jovem república dos Estados Unidos comemorou o primeiro centenário de sua independência com um evento de encher os olhos. Realizada na cidade de Filadélfia, a “Exposição Internacional de Arte, Manufatura e Produtos do Solo e das Minas” ocupava uma área de 1,2 milhão de metros quadrados, igual à soma de 290 campos de futebol ou quase o tamanho do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Reunia 60.000 expositores de 37 países distribuídos em 250 pavilhões e recebeu nove milhões de visitantes, equivalente a 20% da população americana na época. A feira era um símbolo do gênio empreendedor da nova potência industrial emergente da América do Norte. Entre a últimas novidades da ciência e da tecnologia ali exibidas estavam a Remington Number 1, primeira máquina de escrever comercializada por E. Remington & Sons, um modelo de motor a combustão interna que nos anos seguintes Henry Ford usaria para construir seu primeiro automóvel, e um sistema automático de envio de mensagens telegráficas desenvolvido por Thomas Edison, também inventor da lâmpada elétrica e do fonógrafo (aparelho capaz de reproduzir sons).


Nesse ambiente de excitação e curiosidade, o professor escocês Alexander Graham Bell, de 29 anos, parecia deslocado. Seus primeiros dias na feira foram de desânimo e frustração. Ele trazia de Boston, cidade em que morava, uma engenhoca chamada provisoriamente de “novo aparato acionado pela voz humana”. Ao chegar à Filadélfia descobriu que parte da fiação tinha se extraviado junto com a bagagem. Enquanto tentava recuperá-la às pressas, deu-se conta de que a organização da feira lhe destinara uma pequena mesa de madeira escondida no fundo de um corredor distante. Era um espaço pouco frequentado pelos visitantes e fora do roteiro dos juízes encarregados de avaliar e premiar as invenções. Como se inscrevera na última hora, seu nome sequer aparecia na programação oficial da exposição. A chance de que alguém visse o seu invento era mínima[i].

Tudo isso mudou devido a uma extraordinária coincidência. Em um final de tarde, o acabrunhado Graham Bell observava à distância, no pavilhão central da feira, os juízes se preparando para ir embora sem ter passado pelo local em que exibia o seu novo aparelho. De repente, uma voz fina e esganiçada chamou-lhe a atenção:

– Mister Graham Bell?

Ao se virar, Graham deparou-se com um senhor de barbas brancas e olhos muito azuis. Usava roupas escuras, cartola e bengala. Era o imperador do Brasil, D. Pedro II. Os dois tinham se conhecido semanas antes, em Boston, onde Graham Bell criara uma escola para surdos-mudos, assunto de grande interesse do soberano. O imperador lhe pedira para assistir a uma das aulas e ficara impressionado com os métodos utilizados pelo jovem escocês. Depois, acompanhado de numerosa comitiva, tinha seguido viagem para a Filadélfia, onde participara da cerimônia de abertura da exposição ao lado do presidente Ulisses Grant. Primeiro monarca a visitar os Estados Unidos, era a maior celebridade internacional convidada para o evento. Nos três meses anteriores, visitara diversas regiões do país, sempre tratado com deferência e admiração. Sua presença, destacada quase que diariamente nos jornais, atraia multidões de jornalistas e curiosos, exigindo às vezes intervenção da polícia para evitar tumultos. Ao se reencontrar casualmente com Graham Bell no saguão da feira, estava acompanhando os juízes, como convidado de honra, no trabalho de avaliação dos inventos.

– O que o senhor está fazendo aqui?, perguntou D. Pedro.

Graham Bell contou-lhe que acabara de patentear um mecanismo capaz de transmitir a voz humana, mas, cheio de modéstia, explicou que se tratava de um protótipo ainda passível de muitos ajustes e aperfeiçoamentos.

– Ah, então precisamos dar uma olhada nisso..., reagiu D. Pedro.

A cena que se seguiu é hoje parte dos grandes momentos da história da ciência. Escoltado pelo imperador do Brasil, por um batalhão de repórteres e fotógrafos e pelos juízes que, àquela altura, tinham desistido de ir embora, Graham Bell esgueirou-se pelas escadas e corredores da exposição até o obscuro local em que haviam confinado a sua aparelhagem. Ao chegar lá, pediu que D. Pedro II se postasse a uma distância de cerca de cem metros e mantivesse junto aos ouvidos uma pequena concha metálica conectada um fio de cobre. Por fim, atravessou a galeria e, no extremo oposto da fiação, pronunciou as seguintes palavras, retiradas da peça Hamlet, de William Shakespeare:

– “To be, or not to be” (“Ser, ou não ser”)

– Meu Deus, isso fala!, exclamou D. Pedro II. – Eu escuto! Eu escuto!

Em seguida, pulando da cadeira, correu ao encontro de Graham Bell para cumprimenta-lo pela proeza.

Mais tarde rebatizado como telefone, o “novo aparato acionado pela voz humana” seria considerado a maior de todas as novidades apresentadas na Exposição Universal da Filadélfia.

[i]O relato da história de Graham Bell na Exposição da Filadélfia é baseado em Candice Millard, Destiny of the republic: a tale of madness, medicine, and the murder of a president, 2011

Um comentário:

  1. (argento) ... poiZé, o país onde onças, crocodilos, cobras e macacos passeiam pelas ruas junto com uma população de alegres aborígenes, cuja capital Buenos Aires, foi o primeiro a ter Telefone.

    Em 1893, o brasileiro, Padre Roberto Landell de Moura faz a Primeira Transmissão e recepção de Voz e Luz, Sem Fios, por ONDAS ELETROMGNÉTICAS, no Mundo - esse "cara" simplesmente inventou o telegrafo sem fio, a Televisão e o Telefone Celular ...

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