Andrei Meireles - Os
Divergentes
A expressão tempestade perfeita era apenas a descrição de um
fenômeno meteorológico de grandes proporções causado por uma inusitada
confluência de fatores. Na última década, esse conceito caiu como uma luva para
explicar desastres políticos e crise econômicas mundo afora, resultantes de
raras combinações de circunstâncias.
Ali e aqui, a gente usou essa expressão em cenários que
anteciparam a abertura, o processo e o julgamento do impeachment da presidente
Dilma Rousseff. A cassação de Dilma é apenas o epílogo de uma novela menor que
chega ao fim.
O grande drama tem como personagens Lula e o PT, partido
criado com o propósito de combater as promíscuas relações entre as elites
econômicas e a política brasileira. Ao romper esse berço de corrupção, abriria
a oportunidade para a redução das desigualdades sociais e a promoção da
cidadania.
INTENÇÃO E GESTO – Em Fado Tropical, Chico Buarque de
Holanda consagrou a diferença entre intenção e gesto. O PT fez mais. O gesto se
tornou o maior inimigo da intenção. Esse é o filme que todos assistimos nos
últimos anos, montado a partir de fragmentos expostos ao longo da história do
PT.
Nessa sexta-feira (19), a Justiça de Minas Gerais autorizou
que Marcos Valério Fernandes de Souza vá a Curitiba depor para o juiz federal Sérgio
Moro. Será no dia 12 de setembro, por coincidência a mesma data marcada para o
julgamento de Eduardo Cunha pelo plenário da Câmara dos Deputados.
Marcos Valério foi o principal operador privado do escândalo
do Mensalão. Foi também o último a acreditar que na hipotética vigésima quinta
hora seria salvo pelo esquadrão político que controlava a máquina do poder.
OPERAÇÃO CALA A BOCA – Quando a ficha finalmente caiu,
Marcos Valério resolveu entregar uma nova carta: a operação cala boca para que
nada fosse revelado sobre os motivos reais do assassinato de Celso Daniel, o
prefeito de Santo André escalado para ser o coordenador da campanha de Lula à
Presidência da República, em 2012.
Nessa frustrada tentativa, Marcos Valério chegou a prestar
um depoimento, tido como relevante por alguns e tardio pela maioria. Pois bem.
A Operação Lava Jato comprovou tintim por tintim o que Valério contou no
depoimento, ao investigar negociatas e empréstimos fraudulentos entre a
Petrobras, o grupo Schahin, o compadre de Lula José Carlos Bumlai e o
empresário Ronan Maria Pinto – dono do Diário do Grande ABC e apontado como
cúmplice do esquema petista na cidade.
Marcos Valério em Curitiba traz à cena os três grandes
fantasmas da história petista: a morte de Celso Daniel, o escândalo do
Mensalão, e o assalto aos cofres da Petrobras. Tudo junto e misturado. A rigor,
a tempestade perfeita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário