Como é que pode o diretor de comunicação de um evento dessa
importância declarar um absurdo desses?
IstoÉ
A cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio, prevista para
começar às 20h desta sexta-feira, no Maracanã, vai celebrar a cultura da
gambiarra artística. Com um orçamento reduzido drasticamente nos últimos dois
anos, o evento – que terá shows unindo Caetano, Gil e Anitta, além de efeitos
visuais em telas de LED – precisou se adaptar às novas condições econômicas do
País, o que implicou na busca de alternativas mais baratas.
“A cerimônia é uma imensa gambiarra”, comentou Mario
Andrada, diretor de comunicação do Rio-2016, em entrevista coletiva na manhã
desta quinta-feira. Mas ressalvou: “Há uma grande diferença entre gambiarra e
jeitinho”. Melhor explicando: ao invés de improviso, a equipe criativa –
formada pelos cineastas Fernando Meirelles e Andrucha Waddington, a diretora e
cenógrafa Daniela Thomas e a coreógrafa Deborah Colker – precisou encontrar
soluções que compensassem o enxugamento do orçamento.
“Em dois anos de trabalho, chegamos a ter quatro projetos
para a cerimônia e fizemos muita visita ao Saara”, brincou Waddington,
referindo-se à conhecida zona de comércio popular no Rio, onde foram comprados
quilos e quilos de tecidos. “Mas, no final, percebemos que muito do que foi
originalmente criado acabou permanecendo”, acrescentou Daniela.
A equipe baseou seu trabalho em três pilares. O primeiro,
representado por um jardim, traduz o valioso ecossistema nacional. “Queremos
aqui mostrar que somos um povo que pensa que a grama do jardim do vizinho é
mais verde”, afirmou Abel Gomes, diretor artístico executivo da Cerimônias
Cariocas, união entre a agência SRCOM e a holding italiana de eventos
Filmmaster Group, responsável pelas cerimônias de abertura e encerramento.
“Passaremos um recado para o mundo sobre o futuro.”
O segundo pilar trata da diversidade racial. “Vamos mostrar
que o Brasil é um país onde um católico, um judeu e um muçulmano, depois de se
conhecerem, já tomam uma cerveja juntos”, comparou Meirelles. “Buscamos as
semelhanças e celebramos as diferenças.” Finalmente, o terceiro pilar pretende
traduzir o jeito de viver do brasileiro pelo sorriso cravado nos rostos,
indestrutível mesmo diante de adversidades.
Todo o trabalho foi obrigatoriamente adaptado às condições e
restrições do Maracanã. “É um estádio para o futebol, ou seja, os portões não
são altos, o que impediu que criássemos um espetáculo como o carnaval e seus
carros alegóricos”, contou Daniela Thomas, exímia criadora de cenários para
peças e filmes. “Daí surgiu o espetáculo da gambiarra, pois não tínhamos como
fazer, mas tínhamos de fazer.” Daniela crê no poder criativo da gambiarra ao
longo dos tempos. “Desde o tempo dos gregos e romanos, quando os recursos eram
mínimos, os jogos são puro entretenimento.”
Por conta disso, os cenários vão ser mais verticais que
horizontais e servirão como anteparos que ajudarão no ritmo da festa, ou seja,
vão auxiliar a “esconder” os voluntários (cerca de 5 mil no total) que atuarão
no número seguinte. A tecnologia também será uma poderosa aliada, especialmente
com o uso do video mapping, técnica que, de forma simplificada, é a capacidade
de se adaptar um material de vídeo a estruturas volumétricas. Essa tecnologia
permitirá um jogo entre o corpo de baile e sua coreografia com a dinâmica de
imagens e luzes que um video mapping pode proporcionar.
A equipe criativa resistiu a revelar segredos, pretendendo
manter intacta a surpresa do público, que se dividirá entre as cerca de 50 mil
pessoas no estádio e aproximadamente de 3 bilhões de espectadores ao redor do
mundo. Mesmo assim, um dos principais acabou divulgado: a criação de uma nova
área verde no Rio, a Floresta dos Atletas, no Parque Radical, em Deodoro. Ela
será criada com mais de 10 mil mudas de 207 espécies nativas do País, cada
espécie representando uma delegação. Ao entrar no estádio, cada atleta receberá
a semente de uma árvore de a plantará em um tubete com terra. “Creio que esse
será um dos gestos que vai marcar essa cerimônia”, observa Daniela.
Haverá ainda uma releitura dos clássicos da MPB, como
Construção, de Chico Buarque. Outras novidades acabaram reveladas nos últimos
dias, como a presença da atriz inglesa Judi Dench que, ao lado de Fernanda
Montenegro, vão ler versos de Carlos Drummond de Andrade. “Ela adorou o poema e
aceitou vir como voluntária”, contou Meirelles, que foi veemente ao negar a
existência de um quadro que simule um rapaz assaltando a modelo Gisele
Bündchen. “Jamais pensamos nisso. É uma tremenda bobagem.”
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