O Globo
Pela primeira vez desde 2010, o número de processos que
chegaram aos tribunais de todo o país no ano passado diminuiu em relação ao ano
anterior. Mesmo com a boa nova, o congestionamento na Justiça aumentou. Ficou
em 72,2%, em comparação aos 71,4% de 2014. Isso significa que, a cada cem
processos aguardando julgamento em 2015, apenas 28 foram solucionados de forma
definitiva. A explicação para a Justiça continuar emperrada é elementar: os
tribunais até conseguiram julgar em um ano um número um pouco maior de
processos em comparação à quantidade das novas demandas. O problema é o estoque
dos anos anteriores, que se acumulam nas prateleiras.
No ano passado, o Judiciário recebeu 27,28 milhões de casos
novos, um número 5,5% menor do que o verificado no ano anterior. Foram
concluídos no mesmo período 28,48 milhões de processos, número similar ao do
ano anterior. Restaram no acervo 73,9 milhões. Esse estoque é 2,6% maior do que
ao fim de 2014, quando havia 70,8 milhões de ações aguardando julgamento.
CONGESTIONAMENTO – Os dados foram divulgados pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), no estudo “Justiça em Números”, que é realizado
todos os anos. Conforme o levantamento, o principal entrave continua sendo a
fase de execução – ou seja, o destino do processo depois que ele é julgado,
para garantir que a sentença seja cumprida. Estes processos representam 39% dos
casos que ficaram pendentes de serem solucionados em 2015. Além disso, a taxa
de congestionamento considerado apenas esse segmento é ainda maior: 91,9%.
No primeiro grau da Justiça Estadual, o tempo que um
processo de execução tramita é, em média, de oito anos e onze meses. No
primeiro grau da Justiça Federal, a média é de sete anos e nove meses de
duração. Antes de chegar à execução, o processo leva menos tempo para ser
concluído na fase de conhecimento, na qual o juiz ouve a partes e as
testemunhas e analisa provas. Em média, a sentença nessa fase dura três anos e
dois meses na Justiça Estadual. Na Federal, são dois anos e seis meses.
JUIZADOS ESPECIAIS – Mesmo nos juizados especiais, que foram
criados especialmente para acelerar a tramitação dos processos mais simples, o
cenário não muda. A média de duração de um processo é de seis anos e nove meses
na execução. Na fase de conhecimento, o processo leva quatro anos e onze meses.
Ou seja, em média, uma pessoa que entra com ação em um juizado especial, pode
levar mais de uma década para ver o resultado prático do processo.
Em média, os tribunais superiores e de segunda instância
levam pouco tempo para dar uma sentença. Os Tribunais Regionais do Trabalho
(TRT) são os recordistas, com quatro meses. Os Tribunais de Justiça (TJ) levam
seis meses. Os Tribunais Regionais Eleitorais (TRE), um ano. E os Tribunais
Regionais Federais (TRF), um ano e oito meses. O Superior Tribunal de Justiça
(STJ) demora, em média, dez meses para dar uma sentença. No Tribunal Superior
do Trabalho (TST) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o tempo é de um ano.
O Supremo Tribunal Federal (STF) não foi analisado no estudo, porque não é
legalmente submetido ao CNJ.
RECURSOS DEMAIS – Outro motivo para a demora na conclusão
dos processos é a quantidade de recursos apresentados às decisões judiciais. Em
2015, foram ajuizados 5,2 milhões de recursos contra 34,7 milhões de decisões
da primeira e da segunda instância em todo o Brasil. Segundo o estudo, a taxa
de recorribilidade externa é de 14,9%. Isso significa que, de cada cem
sentenças, 15 são alvo de recurso a uma instância superior à que deu a decisão.
Por exemplo, o recurso apresentado a um Tribunal de Justiça contra a sentença
de um juiz de primeiro grau.
O levantamento também revela os assuntos mais recorrentes
nos processos. O tema campeão é a rescisão de contrato de trabalho e verbas
rescisórias em ações trabalhistas, com 4,98 milhões de processos no país. Em
seguida vêm processos cíveis sobre contratos, com 1,95 milhão. Processos
tributários sobre dívida ativa somam 1,74 milhão. Os processos de direito do
consumidor sobre responsabilidade do fornecedor e indenização por dano moral
são 1,66 milhão. Ainda no direito civil, têm destaque os 903 mil processos de
indenização por dano moral. As ações tratando de pensão alimentícia são 836
mil.
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