O público e o privado
– José Casado
Michel Temer vai informar a Lula e Dilma que todo o acervo
presidencial levado quando deixaram o poder está embargado, pelo menos até a
conclusão do inquérito para identificação, origem, natureza (se os bens são
públicos ou privados) e eventual incorporação ao patrimônio da União.
O aviso para que se “abstenham de vendê-los ou doá-los”
deverá ser encaminhado pelo gabinete pessoal de Temer — informou o Tribunal de
Contas em correspondência enviada na tarde de sexta-feira passada ao Palácio do
Planalto, ao responder um pedido de “esclarecimentos” da Secretaria de Governo.
Há dois meses o governo tenta localizar 4.564 bens que
desapareceram da Presidência — de forma “absolutamente inexplicável” na
avaliação de auditores do TCU. Entre 2010 e 2016, a cada 24 horas sumiram dois
bens do registro do patrimônio presidencial.
Estavam sob a guarda e responsabilidade dos gestores de 24
unidades e órgãos, entre eles, os palácios do Planalto e da Alvorada, a
residência oficial da Granja do Torto, ministérios e secretarias como Casa
Civil, Assuntos Estratégicos, Portos, Aviação, Imprensa, Mulheres, Igualdade
Racial.
Não se conhece a listagem do que sumiu. Auxiliares de Temer
resolveram mantê-la sob sigilo, apesar da posição contrária do tribunal.
Sabe-se que dela constam seis obras de arte da Presidência e uma do Museu de
Belas Artes (Rio).
Sabe-se, também, que Lula e Dilma guardam 697 peças
classificadas como “acervos de natureza museológica e bibliográfica”, recebidas
como presentes em reuniões com chefes de Estado e de governo. Lula ficou com
80%, como “mero guardião”, alegam seus advogados, ciente de que o proprietário
é “o povo” e sua conservação e preservação “cabe ao poder público”.
Em março passado, ele disse à polícia não saber o valor e a
exata localização dos bens:
— Acho que (está) no sindicato nosso, dos metalúrgicos (de São
Bernardo-SP). Tem coisa de valor que deve estar guardada em banco... Eu já
tomei uma decisão, terminada essa porra desse processo, eu vou entregar isso
para o Ministério Público. Vou levar lá e vou falar: “Janot, está aqui, olha,
isso aqui te incomodou? Um picareta de Manaus entrou com um processo pra você
investigar as coisas que eu ganhei, então você toma conta”.
O delegado insistiu:
— O senhor disse que no sítio (de Atibaia-SP) foi colocada
parte dos bens que foram retirados no fim do mandato...
— Eu falei tralhas, que eu nem sei o que é, mas é tralha —
retrucou Lula.
— O senhor disse que tem coisa valiosa.
— Eu não sei onde está, mas tem muita coisa valiosa. Tem
muita coisa valiosa...
Parte do acervo mantido por Lula já foi mapeado pela
polícia. Duas semanas atrás, o juiz Sérgio Moro autorizou uma comissão
governamental a catalogar as peças encontradas num cofre do Banco do Brasil, em
São Paulo.
O roteiro escrito no Planalto prevê que até janeiro se
conclua a “minuciosa identificação dos bens” no cofre do banco. Idêntico
procedimento seria adotado sobre o acervo mantido pela ex-presidente Dilma.
Permanecem desaparecidas outras 3.868 peças do patrimônio da
Presidência. Ajudam a compor o retrato da resiliência de costumes arcaicos na
política, cuja melhor síntese foi feita pelo Barão de Itararé, nos anos 40: “No
Brasil, a vida pública é, muitas vezes, a continuação da privada”.
(argento) ... "tralha" é, modernamente, um vocábulo polissêmico, pode ser qualquer coisa entre um "Tudo e um Nada", "coletivo (coleção)" de coisas (objetos) de valor ou simplesmente Lixo - bão, eu gostaria muito que a tralha do Lula fizesse parte do acervo das tralhas, aqui, da caverna onde habito - "o sistema de Crenças é uma Tralha"...
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