Como sempre, quando eu penso em comentar sobre as
barbaridades do Verissimo, o Rodrigo Constantino já o fez. Portanto, vou ser
breve, e quem quiser um pavão mais enfeitado que leia o Rodrigo.
Vou me ater apenas a uma duas frases do artigo, que publico
na íntegra, onde o engraçadinho diz:
“Seria bom se as
ideias viessem sempre acompanhadas de suas consequências. As pessoas pensariam
melhor no que dizem e pregam, para não terem remorso depois.”
E adianta? No caso do próprio Verissimo, que não sente
remorso nem depois de tomar conhecimento das consequências das barbaridades que
ele ainda defende, adiantaria?
Verissimo, a cada artigo, se supera em monstruosidades que
atentam contra a inteligência e o bom senso alheios.
O sono da memória
Não há problema em publicar o “Mein Kampf” do Hitler, cujos
direitos de edição recém caíram em domínio público. O livro interessa a
historiadores e estudiosos da psicologia de massa e a qualquer pessoa curiosa
sobre o poder das suas ideias, um poder capaz de galvanizar uma nação e mudar
radicalmente a sua história. Eu só acho
que as novas edições de “Mein Kampf” deveriam vir com um DVD encartado, com
cenas dos cadáveres empilhados e dos moribundos esquálidos descobertos em
Auschwitz e outros campos de extermínio, no fim da Segunda Guerra Mundial.
Cenas terríveis dos esqueletos das cidades bombardeadas e dos milhares de
refugiados tentando sobreviver em meio aos escombros, enquanto o mundo ficava
sabendo, nos julgamentos dos criminosos, das barbaridades cometidas em
concordância com a Kampf do Hitler. Assim, o comprador do livro teria o nazismo
como teoria e o nazismo na prática. As ideias e suas consequências.
Seria bom se as
ideias viessem sempre acompanhadas de suas consequências. As pessoas pensariam
melhor no que dizem e pregam, para não terem remorso depois. Já se disse
que muitas barbaridades teriam sido evitadas no mundo se existisse algo
parecido com o remorso antes do fato, uma espécie de remorso preventivo. Não se
imagina o próprio Hitler se arrependendo das suas teses e, diante dos horrores
que elas desencadearam, dizendo “Ei, pessoal, não era nada disso!”. Está claro
que no cerne patológico da pregação de Hitler há uma volúpia de destruição, um
desejo secreto de caos que tem tanto a ver com o romantismo alemão quanto com a
geopolítica da época. Mas outros não têm o mesmo motivo para desprezarem as
consequências. Ou para esquecerem-se delas.
Naquela famosa legenda de uma gravura do Goya está escrito
que o sono da razão cria monstros. Pior que o sono da razão, Goya, é o sono da
memória. As pessoas que hoje defendem a volta da ditadura militar no Brasil
esqueceram-se de como foi. Esqueceram-se das prisões arbitrárias, das torturas,
do terror e dos assassinatos de Estado, da censura, do número de estrelas nos
ombros como única credencial para governar. Se não lhes falta memória, lhes
falta razão. Ou miolos.
O Jair Bolsonaro,
principal proponente da volta à ditadura, é o deputado mais votado do Rio.
Tem uma multidão de apoiadores. E tem mais do que isso: na recente mudança no
Comando Militar do Sul, Bolsonaro foi um convidado especial do novo comandante
para a cerimônia de posse. Não se sabe se o comandante também é um nostálgico
como ele. De qualquer maneira, tenho tido longas conversas com a minha
paranoia, tentando acalmá-la.
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