Felippe Hermes
Permitir a todo cidadão comum americano viver a noite foi
motivo para fazer de John D. Rockefeller o homem mais abonado de seu tempo e um
dos mais ricos da história. Seu produto revolucionário, o querosene, fez com
que todo lar americano pudesse ter acesso a um espaço do dia antes muitas vezes
restrito a uma pequena elite, capaz de pagar pelo óleo de baleia ou pelas velas
comuns. A marca de Rockefeller entretanto vai muito além dessa empreitada. Sua
guerra pessoal com Andrew Carnegie em torno da filantropia é uma herança
americana presente ainda nos dias atuais.
Nenhum país do mundo realiza tantas doações como os
americanos. São US$ 358 bilhões apenas em 2014 (cerca de 15% do PIB brasileiro
doado para a caridade). A exemplo de Rockefeller, criar uma fundação e legar
seu nome às mais variadas obras tornou-se uma obsessão de quase todo bilionário
americano. Prédios de universidades quase sempre carregam o nome de ex-alunos
ricos – alguns foram até mesmo construídos por meio de doações, como a
Universidade de Chicago, criada por Rockefeller.
Para além de prédios e bibliotecas (como as 3 mil
bibliotecas construídas por Andrew Carnegie), os bilionários americanos
empenham-se em questões de cunho social e engajamento político. Dentre as mais
de 1,52 milhão de entidades de caridade americanas, algumas merecem destaque
exatamente pelo ativismo a que se propõem. Dentre elas, a Fundação Ford, criada
em 1936 pelo bilionário Henry Ford, a Open Society, do bilionário George Soros,
e a própria Fundação Rockefeller, cujos interesses hoje vão bem além da
educação.
Com patrimônio bilionário, tais fundações não poupam
recursos em defender suas agendas. Enquanto a Fundação Ford doa US$ 560 milhões
anuais, a Fundação Open Society prevê doar US$ 960 milhões em 2016. Tantos
recursos acabam parando também no Brasil e na América Latina, onde a Fundação
Ford doa em média US$ 25 milhões anuais, contra US$ 37 milhões da fundação de
Soros. Abaixo, algumas das causas beneficiadas por tais fundações – e que, não
sem motivo, ajudam a formar a opinião da esquerda tupiniquim.
1. CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES
Maior das centrais sindicais brasileiras, a CUT (Central
Única dos Trabalhadores) é responsável por representar cerca de 1 em cada 3
trabalhadores filiados a sindicatos no país.
Seus 7,5 milhões de filiados fazem da CUT a maior entidade recebedora do
imposto sindical no país. A despeito de fazer campanha contra o imposto (que
obriga cada trabalhador com carteira assinada no país a repassar 1 dia de
trabalho aos sindicatos), a entidade recebe aproximadamente R$ 51 milhões
anuais, ou 1,6% do valor arrecadado com o imposto (de R$ 3,2 bilhões/ano). Os
demais são distribuídos entre os 15,8 mil sindicatos brasileiros.
O imposto sindical obrigatório, no entanto, uma
exclusividade brasileira não existente em nenhum outro país do mundo, não é a
única forma de sustento da entidade presidida por Vagner Freitas (conhecido por
sugerir em discurso no Palácio do Planalto que se preciso fosse, pegaria em
armas para defender o governo Dilma – e claro, por seu cargo como conselheiro
no BNDES, um trabalho cujo rendimento por participação em algumas poucas
reuniões mensais pode remunerar até R$ 21 mil seu ocupante). A CUT complementa
seu orçamento ainda com participação em ganhos de associados nas negociações
sindicais e doações de fundações e organizações internacionais.
Firmado em 2014, o acordo entre a CUT e a Fundação Ford
rendeu à entidade aproximadamente $150 mil (ou R$ 350 mil com o câmbio da
época). Com contratos como este, além dos demais acordos com BNDES e Petrobras,
a organização se destaca também na elaboração de premiações, como o Prêmio CUT:
Democracia e Liberdade Sempre, que em 2011 laureou o ex-presidente Lula como o
título de “personalidade de destaque na luta por Democracia e Liberdade” (na
mesma edição, o MST ganhou como “instituição de destaque na luta por Democracia
e Liberdade”).
2. INTERVOZES
Com slogans como ‘democratizar a mídia’, grupos de esquerda
e políticos brasileiros insistem há algum tempo em impor um debate sobre o
papel da mídia e o peso da regulação do Estado no setor. A exemplo do que fez a
Argentina, tais movimentos lutam por uma limitação de grupos de mídia que torne
a imprensa mais fragmentada, e consequentemente mais suscetível ao achacamento
dos governos. Com participação do debate do Marco Civil da Internet às
campanhas de Banda Larga Popular, grupos como o Intervozes se apresentam como
os principais centros de produção de ideias para o debate da mídia no país.
O peso excessivo do capital no viés da informação é o alvo
preferido neste debate. Se por um lado, a imprensa brasileira sofre de uma
crise que se prolonga há anos, forçada a reinventar seu modelo de negócios para
manter-se de pé e evitar demissões em massa de jornalistas, grupos como o
Intervozes em nada são afetados por estes dessabores do mercado. E a razão para
isso é fácil de explicar: seu financiamento é assegurado por organizações
internacionais.
Para a Fundação Ford, financiar ideias de regulação da mídia
em países emergentes é uma ideia relativamente antiga. A própria Intervozes
consta na lista de doações da entidade há pelo menos 9 anos, com uma doação de
US$ 160,7 mil em 2006 (a organização americana está no rodapé da página do
movimento como “financiamento institucional”). De lá para cá foram US$ 2
milhões, ou quase R$ 15 milhões, quando considerada a inflação brasileira, para
pautar o debate de mídia no Brasil.
Algumas das ideias defendidas pelo Intervozes são possíveis
de conferir aqui, em seu blog na Carta Capital.
3. AGÊNCIA PÚBLICA
O empreendedorismo no setor de mídia tem ganhado força nos
últimos anos, sob o manto da independência e da não participação de grandes
grupos de mídia. Sites como a Agência Pública ganharam destaque ao produzir
reportagens-denúncia a respeito dos mais diversos temas. Aos mais esquecidos, a
agência é responsável pela matéria “A nova roupa da direita”, que trata exatamente do financiamento americano a
grupos da “Nova direita” no Brasil e na América Latina.
Em tom de denúncia, o site, que é mantido por organizações
como a Open Society (do bilionário húngaro-americano George Soros) e a Fundação
Ford – demonstra como organizações brasileiras estariam recebendo financiamento
americano para defender suas ideias. Uma doação de US$ 25 mil à rede americana
Students For Liberty feita pelos bilionários Charles & David Koch
(controladores da Koch Industries, ambos entre os 10 mais ricos do mundo,
segundo a Bloomberg), torna-se prova cabal de que a sua filial brasileira, a
rede Estudantes Pela Liberdade, faria parte do chamado ‘Kochtopus’ (a rede de entidades
que recebe doações dos irmãos Koch). Como já defendeu a revista Carta Capital,
os irmãos teriam supostamente doado estes valores à organização americana para
que fosse feita no Brasil a defesa de ideias como a privatização da Petrobras
(uma vez que ambos possuem empresas em oleodutos e petroquímica).
Além dos US$ 500 mil recebidos da Fundação Ford desde sua
criação, e de valores desconhecidos da Open Society, de Soros, a Pública, como
é conhecida, conta ainda com extensas campanhas de financiamento coletivo para
bancar seu modelo de negócio sem fins lucrativos. Em determinada campanha, por
exemplo, a agência arrecada verbas para bancar bolsas de estudo para
jornalistas (com remunerações que chegam a R$5 mil mensais). Contando com o
blogueiro do Grupo UOL/Folha, Leonardo Sakamoto, em seu conselho editorial, a
Pública presta ainda alguns serviços de produção de conteúdo para organizações
como a ClimateWorks (fundação americana voltada para o meio ambiente), que já
doou cerca de US$ 200 mil (ou R$800 mil em valores atualizados) desde 2012,
quando iniciou a parceria. O foco, segundo a ClimateWork, é garantir a
cobertura independente de políticas públicas na Amazônia.
4. CUNHÃ – COLETIVO FEMINISTA
Organizador dos atos contra o impeachment na Paraíba e da
Marcha das Margaridas (o evento financiado pelo BNDES e Petrobras que leva
anualmente milhares de mulheres a Brasília por meio de coletivos feministas,
CUT e MST), o coletivo Cunhã tem por objetivo defender direitos reprodutivos,
enfrentar a violência doméstica, garantir trabalho, autonomia e maior
participação política das mulheres. Dentre os principais financiadores da
organização, encontra-se a Brazil Foundation, organização com sede nos Estados
Unidos que atua buscando doações para projetos no Brasil. Dentre os doadores da
Brazil Foundation, destaca-se o ex-presidente do Banco Central e assessor do
candidato Aécio Neves, Armínio Fraga, além do banco de investimentos Goldman
Sachs e da Vanguard Capital, gestora de ativos norte-americana.
Financiar o movimento feminista é uma tradição de longa data
da Fundação Ford. Além do coletivo Cunhã, que recebeu US$ 450 mil, a
organização Themis (US$ 360 mil), SOS Corpo (US$ 750 mil) ou a organização
“Católicos Pelo Direito de Decidir” (US$ 200 mil) também estão na lista de
doações da entidade. No geral, para financiadores do coletivo Cunhã, como a
Fundação McArthur, a International Women’s Health Coalition e a própria
Fundação Ford, tais financiamentos possuem como ideia central apoiar projetos
de planejamento familiar e organizações favoráveis a direitos como o aborto.
Para organizações como o coletivo Cunhã, entretanto, tais fontes de financiamento
servem também ao interesse político-partidário.
5. VIVA RIO E SOU DA
PAZ
O referendo do desarmamento completou em 2015 seus 10 anos.
A despeito da vitória do NÃO, com 63,94% dos votos, as duas principais
organizações por trás da defesa do desarmanento mantém sua atuação e contam com
verbas cada vez maiores.
Com receitas de R$ 450 milhões em 2014 (sendo R$ 440 milhões
em contratos de prestação de serviço na área de saúde), a ONG Viva Rio ainda
mantém uma forte atuação como defensora do desarmanento, posição também mantida
e ampliada pela ONG Sou da Paz – cuja receita, apesar de mais modestas (R$ 15,2
milhões em 2014), também financia majoritariamente campanhas pelo desarmamento
(a fundação Sou da Paz foi fundada como uma campanha pró-desarmamento em 1997).
A Viva Rio, mais antiga, de 1993, possui dentre seus fundadores José Roberto
Marinho, além de ter João Roberto Marinho em conselho (ambos herdeiros do Grupo
Globo, que consta na lista de apoios da fundação).
Dentre os financiadores, porém, as organizações
internacionais ganham destaque, junto de instituições financeiras como Credit
Suisse e Santander. A Open Society, de George Soros, consta como apoiadora da
Sou da Paz (sem valores declarados), além da fundação holandesa Bernard Van Leer,
que contribuiu com 57 mil euros em 2014. A Fundação Ford, por exemplo, doou
mais de US$ 600 mil para o Instituto Sou da Paz. Uma das doações, realizada em
2005, fez com que o Tribunal Superior Eleitoral proibisse o instituto de
participar da campanha do referendo do desarmamento (segundo a lei brasileira,
organizações com financiamento estrangeiro não podem participar de campanhas
políticas). Por parte da ONG Viva Rio os nomes se repetem, além de consulados
de países como França e Suécia, organizações não-governamentais europeias, da
Polícia Militar do Rio de Janeiro, das Organizações Globo, a ONG é também
beneficiária de doações por parte das Fundações Ford e da Open Society, de
Soros.
O Instituto Sou da Paz é também o realizador de uma pesquisa
a respeito de doações da indústria armamentista a políticos brasileiros.
Segundo a denúncia, cerca de 21 parlamentares eleitos, que comporiam a bancada
da bala, receberam R$ 2 milhões em doações nas eleições de 2014. O valor, de
forma irônica, é aproximadamente 10% do orçamento do próprio instituto.
É só verificar no link essas "Instituições", suas doações e seus reais motivos....
ResponderExcluirhttps://www.activistfacts.com
Procurem Rockefeller Fundation, Ford, Green Peace, etc...tudo com segundas e terceiras agendas...todas de esquerda.
(argento) ... "A “opinião” da esquerda brasileira é financiada pelos grandes capitalistas" - e não é?, por quê não é? ... Crenças, "sistema de", subentenda-se que Opiniões são "expressão" das Crenças (uma ou várias, objetivas ou subjetivas, em "entidades" ou pessoas) ...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
Excluir(argento) ... poiZé, querem a cabeça de Cunha, ... hehehe, ... e Canalheiros vai ficando (perdão pelo gerundismo) "esquecido". Qual a "diferença" entre um e outro? ... Cunha está ficando (perdão outra vez) só, sem Apoio, enquanto Canalheiros tem mais "engavetadores" de processos ... (foi só um exemplo) ...
Excluir(argento) ... e bastou que a "Maior Economia do Mundo" -economia movida a petróleo- "anunciasse" sua Independência ao "Negócio", para criar uma "crise mundial" ... (foi só outro exemplo) ... (o Sistema de Crenças é foda!) ...
ResponderExcluir