Antes do artigo, uma observação: a Época, esta semana, bateu recordes de estupidez e torração de saco com nada menos que 14 páginas sobre Trump, fora os editoriais e artigos. É claro que todos falam mal do destrambelhado que virou anticristo.
Eu não morro de amores por Trump, muito pelo contrário: considero-o uma caricatura do que deveria ser um político e, principalmente o presidente da nação mais poderosa do mundo. Mas, não há como qualificar a rejeição insensata a ele de 90% da imprensa mundial, senão de estupidez. O cara virou mito de tanta notícia falsa e de tanto exagero.
Aliás, que fique aqui o alerta para quem tem uma queda por Bolsonaro: ele e Trump são farinha do mesmo saco.
Mas vamos a Ruth de Aquino:
Crivella cuida do filho Marcelinho
“Chegou a hora de cuidar das pessoas”, dizia o pastor
Marcelo Crivella na campanha para a prefeitura do Rio de Janeiro. Ninguém pode
acusá-lo de não cuidar do filho, Marcelinho Crivella, nomeado agora, para
orgulho do papai, secretário da Casa Civil. O salário polpudo é o que menos
conta. Marcelinho começa a ser preparado para ser eleito senador em 2018.
Tem cara de nepotismo, tem cheiro de nepotismo, é nepotismo
por definição e semântica. É imoral, neste momento do país. Mas não é ilegal. O
Supremo Tribunal Federal, numa súmula 13 que considero equivocada, autoriza
nomear parentes para os mais altos escalões políticos, como ministros e
secretários estaduais ou municipais. Soa como inversão de valores: quanto mais
alto o escalão, mais censurável deveria ser a nomeação de um parente.
Nepotismo (do latim nepos, neto ou descendente) é o termo
que designa favorecimento de parentes em detrimento de pessoas mais
qualificadas. Marcelinho só está na posição-chave da Casa Civil por ser filho
do homem. Nunca ocupou um cargo na gestão pública. Será responsável pela
nomeação de 10 mil cargos comissionados. É um escândalo. Alguém da oposição
deveria entrar com recurso, porque toda lei tem interpretações subjetivas. Não
podemos apelar para um algoritmo salvador? Não há competência técnica
comprovada de Marcelinho para essa função.
Crivella jurou “proteger a família” ao tomar posse. Está
cumprindo a promessa: “Você precisa entender que ninguém conhece melhor meu
filho. E quem nomeia sou eu”. Pouco sabemos sobre as qualidades de Marcelinho
para o cargo. Mora nos Estados Unidos, é formado em psicologia cristã na
Califórnia, casado desde 2011, e abriu uma rede de escolas de computação
gráfica, Seven, que foi rebatizada de Red Zero. Uma palestra sua ensina como
ganhar sempre numa negociação. Ah, e Marcelinho também gosta de pizza com
rúcula.
A reação da sociedade teria sido mais branda se Crivella
tivesse, de fato, assumido o desafiador papel de prefeito de um Rio em crise
aguda pós-Olimpíada, nas finanças e na segurança. Onde está Wally? Crivella é
invisível como prefeito. Começou mudando a logomarca da prefeitura,
substituindo o azul de Eduardo Paes pelo “verde” no brasão e trocando as
palavras de lugar. Gastar dinheiro com isso? É essa a austeridade prometida?
São mais de 30 dias de mandato e o que fez o prefeito do Rio
além de decretar um mutirão de cirurgias? Até agora, não sei se Crivella vai
mesmo cortar à metade as despesas com cargos comissionados e gratificações.
Ninguém sabe, talvez nem ele. Quem está na prefeitura não sabe se vai
continuar. Ao tomar posse, prometeu reduzir de 26 para 12 as secretarias, mas
não consegue finalizar nada. Crivella não divulga balanço de um mês de
administração. Não se pode denunciar uma obra irregular, porque não há
diretores no Urbanismo. As praias estão mais bem patrulhadas? Sim, era o mínimo
no verão carioca.
Crivella recuou de cinco nomeações após revelar os nomes.
Nomeou e exonerou em 24 horas. Todos tinham problemas com a Justiça. Deveria
cair em si e exonerar o vice-prefeito e secretário de Transportes Fernando Mac
Dowell, dono de mansão que deve R$ 215 mil de IPTU e dono de empresa que deve
quase R$ 235 mil de ISS à prefeitura e R$ 137.300 à União. Crivella diz que
todo contribuinte tem direito de negociar sua dívida. Verdade. Mas um
endividado compulsivo não pode ser vice-prefeito nem comandar o setor turbulento
e carente do transporte. Não pode. Nem rezando para o bispo. Repetindo: Mac
Dowell não tem ficha fiscal compatível com o cargo.
É óbvio que, como o PRB é um braço ou uma fachada política
legal para a Igreja Universal, falta “corpo técnico”. Difícil governar somente
em nome do pai, do filho e do espírito santo. Funcionários da prefeitura me
disseram em off que Crivella faz uma gestão amadora, como se administrasse uma
paróquia. E que acalenta planos como criar o Rio 10, a Saúde 10, a Segurança
10. Usando sempre seu número, que tentou até enfiar no brasão da prefeitura.
Não sei se Crivella é adepto da numerologia, mas assumir a prefeitura seria um
bom começo para o Rio acéfalo.
Quanto ao “Marcelinho”, Crivella padece do mesmo problema de
muitos machos brasileiros, públicos ou privados. Primeiro, anseiam por ter
filho varão. Depois, fazem questão de colocar seu próprio nome no bebê. E aí
temos o Michelzinho (Temer), o Rodriguinho (Maia) e tantos outros. Muitos
exibem os garotinhos como troféus de masculinidade. Querem cena mais deslocada e surreal que a de
Rodrigo Maia erguendo o Rodriguinho na mesa da Câmara em Brasília, após ser
reeleito presidente? Não há fronteira entre público e privado em nosso país.
Falta compostura.
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