Uma matéria capciosa intitulada “The psychology of why 94
deaths from terrorism are scarier than 301,797 deaths from guns” (A psicologia
do porquê 94 mortes por terrorismo são mais assustadoras do que 301.797 mortes
por armas de fogo), veio no meu Facebook através de uma mala chamada Julian Lennon,
que em vez de se limitar a curtir o que o pai foi, quer ter vida própria seguindo
o caminho oposto do que John sempre trilhou, o politicamente correto.
“De acordo com a New America Foundation, os jihadistas
mataram 94 pessoas nos Estados Unidos entre 2005 e 2015. Durante esse mesmo
período, 301.797 pessoas nos EUA foram mortas a tiros, informa Politifact. À
primeira vista, esses números podem parecer indicar que a proibição temporária
de Donald Trump a imigrantes de sete países - um objetivo que ele disse era
destinado a “proteger o povo americano contra ataques terroristas de
estrangeiros admitidos nos Estados Unidos” - é totalmente equivocada.
Mas Trump está certo sobre pelo menos uma coisa: os
americanos têm mais medo do terrorismo do que de armas, apesar do fato de que
as armas têm 3.210 vezes mais probabilidades de matá-los.”
Bom, o troço já começa forçando uma barra ao começar a avaliação
por 2005, esquecendo o 11 de setembro de 2001 onde morreram 2.980 pessoas e 19
animais islâmicos.
Em segundo lugar, o número de mortos a tiros por outra
pessoa foi algo em torno de 120 mil e não os 301.797, capciosamente colocados
no texto sem indicação que os suicídios respondem por 2/3 dessas mortes por
armas de fogo. Tanto que o texto diz, bem lá embaixo, bem en passent, que “de acordo com dados compilados dos Centros de
Controle de Doenças, durante 2005-2014, uma média de 11.737 americanos por ano
foram abatidos por outro americano”. Basta verificar que, se multiplicarmos
11.737 por 11 (anos) não vamos chegar nunca a 301.797.
Em terceiro lugar, se o objetivo é argumentar com
estatísticas, a argumentação pelo desarmamento nos Estados Unidos perde feio.
Vejam só:
Nos EUA há 112,54 armas de fogo para cada 100 habitantes e
morrem, por seu uso, 10,54 por cada 100 mil (incluindo os suicídios);
Na Suíça há 45,70 armas de fogo para cada 100 habitantes e
morrem, por seu uso, 3,08 por cada 100 mil, sendo que apenas 0,23 por cada 100
mil são de suíços matando outros suíços, sendo que 2,68 (!) por 100 mil são
suicídios;
No Brasil há 8,00 armas de fogo para cada 100 habitantes e
morrem, por seu uso, 21,20 por cada 100 mil (incluindo os apenas 0,45 por cada
100 mil suicídios);
Em Honduras ainda é pior: são 6,20 armas de fogo para cada
100 habitantes e morrem, por seu uso, 67,18 por cada 100 mil.
Em números absolutos, para haver um morto por armas de fogo na
Suíça são “necessárias” 14.838 armas, nos EUA são “necessárias” 10.683 armas, no
Brasil, o número cai para 377 e, em Honduras cai para 92, portanto, não me usem
estatísticas para provar coisa nenhuma nesse sentido.
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