segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Psicologia e Estatística não combinam

Uma matéria capciosa intitulada “The psychology of why 94 deaths from terrorism are scarier than 301,797 deaths from guns” (A psicologia do porquê 94 mortes por terrorismo são mais assustadoras do que 301.797 mortes por armas de fogo), veio no meu Facebook através de uma mala chamada Julian Lennon, que em vez de se limitar a curtir o que o pai foi, quer ter vida própria seguindo o caminho oposto do que John sempre trilhou, o politicamente correto.

“De acordo com a New America Foundation, os jihadistas mataram 94 pessoas nos Estados Unidos entre 2005 e 2015. Durante esse mesmo período, 301.797 pessoas nos EUA foram mortas a tiros, informa Politifact. À primeira vista, esses números podem parecer indicar que a proibição temporária de Donald Trump a imigrantes de sete países - um objetivo que ele disse era destinado a “proteger o povo americano contra ataques terroristas de estrangeiros admitidos nos Estados Unidos” - é totalmente equivocada.

Mas Trump está certo sobre pelo menos uma coisa: os americanos têm mais medo do terrorismo do que de armas, apesar do fato de que as armas têm 3.210 vezes mais probabilidades de matá-los.”

Bom, o troço já começa forçando uma barra ao começar a avaliação por 2005, esquecendo o 11 de setembro de 2001 onde morreram 2.980 pessoas e 19 animais islâmicos.

Em segundo lugar, o número de mortos a tiros por outra pessoa foi algo em torno de 120 mil e não os 301.797, capciosamente colocados no texto sem indicação que os suicídios respondem por 2/3 dessas mortes por armas de fogo. Tanto que o texto diz, bem lá embaixo, bem en passent, que “de acordo com dados compilados dos Centros de Controle de Doenças, durante 2005-2014, uma média de 11.737 americanos por ano foram abatidos por outro americano”. Basta verificar que, se multiplicarmos 11.737 por 11 (anos) não vamos chegar nunca a 301.797.

Em terceiro lugar, se o objetivo é argumentar com estatísticas, a argumentação pelo desarmamento nos Estados Unidos perde feio. Vejam só:

Nos EUA há 112,54 armas de fogo para cada 100 habitantes e morrem, por seu uso, 10,54 por cada 100 mil (incluindo os suicídios);
Na Suíça há 45,70 armas de fogo para cada 100 habitantes e morrem, por seu uso, 3,08 por cada 100 mil, sendo que apenas 0,23 por cada 100 mil são de suíços matando outros suíços, sendo que 2,68 (!) por 100 mil são suicídios;
No Brasil há 8,00 armas de fogo para cada 100 habitantes e morrem, por seu uso, 21,20 por cada 100 mil (incluindo os apenas 0,45 por cada 100 mil suicídios);
Em Honduras ainda é pior: são 6,20 armas de fogo para cada 100 habitantes e morrem, por seu uso, 67,18 por cada 100 mil.

Em números absolutos, para haver um morto por armas de fogo na Suíça são “necessárias” 14.838 armas, nos EUA são “necessárias” 10.683 armas, no Brasil, o número cai para 377 e, em Honduras cai para 92, portanto, não me usem estatísticas para provar coisa nenhuma nesse sentido.


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