quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Em 2005, propus a criação do “Dia Nacional da Consciência Branca” à deputada Cida Diogo

Exma. Sra. Deputada Cida Diogo:

V. Exa. teria alguma objeção a um projeto de lei que pleiteasse a criação do Dia Nacional da Consciência Branca?

Sem mais para o momento, subscrevo-me

Atenciosamente

Ricardo Froes
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----- Original Message -----
From: maaraujo@alerj.rj.gov.br
To: ricfroes@centroin.com.br
Sent: Friday, May 13, 2005 6:48 PM
Subject: Resposta

Prezado Senhor Ricardo,

Com certeza não seria contra a criação de uma lei que instituisse o Dia Nacional da Consciência Branca, uma vez que qualquer tipo de preconceito seja de raça, credo, sexo, não nos leva a um verdeiro pacto pela paz. Mas não posso deixar de expressar o quanto acho desnecessário uma lei com esse objetivo.

O Brasil, foi um dos últimos se não o último pais a abolir  a escravatura. E mesmo assim quando o fez, fez dos negros de nosso pais escravos dos grandes senhores, tendo que trabalhar em troca de comida e dormida, pois os negros não tinham acesso a educação, tão poucos às terras que sempre foram adquiridas, de forma nunca conhecida nem revelada. Os negros ficaram muitos anos à margem da sociedade e de direitos básicos para sobrevivência.

Podemos não admitir, mas a história nos mostra que o Brasil por tempo teve uma soberania"branca" e machista, visto que nem as mulheres brancas podiam votar antes de 1934, sendo consideradas incapazes de exercer  tal direito.

Vimos que hoje a população negra é maioria em nosso pais, mesmo assim não vemos uma maioria negra atuando na política, nem matriculados nas universidades , não vemos uma maioria de negros empresários, jornalistas, médicos, padres, acho que não podemos citar em nenhuma área de atuação onde o negro seja maioria.

Mas existem sim uma maioria negra, morando nas favelas, em áreas de posse, nas prisões, na marginalidade, uma maioria de negros morando nas ruas. E essa maioria não se constituiu da noite pro dia.

E por que será que os negros são maioria somente nessas situações ?

Será que sabemos?

Tiveram os negros os mesmas oportunidades que os brancos ?

Nas escolas particulares e cursos de  pré-vestibular privados ? Quantos negros existem ?

E nas universidades privadas ?

O branco hoje é maioria até nas universidades públicas. Até ai tudo bem, mas será que são todos oriundos das escolas públicas ?

Caro Rogério, não sei qual foi a sua intenção em me formular essa pergunta, mas com certeza creio e luto por uma sociedade mais justa e igualitária, onde brancos , negros, indios, seja qual for a cor da pele ou da raça vivam em harmonia e sejam cidadãos plenos de direitos e deveres.

Não acredito que o negro tenha que se sobrepor a qualquer outra raça, mas que seja o negro tratado como qualquer outra raça.

Só agindo assim, estaremos pagando uma dívida social, com uma parcela da sociedade que construiu e ainda continua construindo as riquezas de nosso pais.

Espero poder, discutir essa idéia contigo, e  poder dizer isso pessoalmente, com certeza seria uma grande satisfação.

Espero saber mais de você, onde mora, onde trabalha, onde estuda. Será muito legal.

Um forte abraço

CIDA DIOGO

Enviado por Marcos Araujo - Chefe de Gabinete. 
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Exma. Sra. Deputada Cida Diogo:

Antes de mais nada quero agradecer sua resposta à minha provocação. Confesso que não esperava ser respondido de maneira tão educada e civilizada, em função dos péssimos comportamentos demonstrados por muitos dos seus colegas da ALERJ. Agora V. Exa. tem um admirador do contra, e eu a certeza que pelo menos uma pessoa honra o cargo para o qual foi eleita pelo povo. Mas nada disso impede que tenhamos posições contrárias que, espero, possam ser discutidas no mesmo nível da sua resposta.

O que me chamou atenção e me instigou a provocá-la não foi necessariamente o fato de existir um Dia da Consciência Negra, e sim o requerimento de V. Exa. que solicitou a realização de sessão solene em comemoração a ele. Há tantas coisas tão mais importantes que “sessões solenes” a serem resolvidas pela Câmara que custo a acreditar que se gaste tanto tempo e dinheiro em homenagens perfeitamente dispensáveis como a sua, ou a de sua colega Heloneida Studdart propondo dar um título de benemérito do estado a Drauzio Varella. Isso sem falar em Sivuca e Edson Albertassi que também apresentaram projetos semelhantes homenageando dois ilustres desconhecidos, todos no mesmo dia em que foi votado o Código de Ética e derrotadas as propostas contra o nepotismo e de abertura do sigilo bancário. Não que a farta distribuição de títulos e o excesso de comemorações tenham influência sobre os resultados funestos das votações, mas o que se verifica diariamente são sessões abarrotadas de propostas desse tipo quando há tanto de útil por fazer. É por essas e outras que se verifica cada vez mais o descrédito da população com o legislativo. Chega de oba-oba, deputada.

Já que sua resposta superou as expectativas da pergunta, eu gostaria de esclarecer alguns fatos aludidos por V. Exa. que não correspondem à verdade.

1) O Brasil não foi um dos últimos países a abolir a escravatura. Ela foi abolida em 1901 no Sudão, em 1928 em Serra Leoa, em 1942 na Etiópia, e em 1962, na Arábia Saudita, sendo que ainda hoje, a escravidão é praticada em alguns países da África, como Níger e Mauritânia;

2) Não foi em 1934 e sim em 1932 que o governo Getulio Vargas promulgou o novo Código Eleitoral pelo Decreto n º 21.076, garantindo o direito de voto ás mulheres brasileiras. Falar em “soberania branca e machista”no Brasil naquela época é um tremendo exagero, visto que o sufrágio universal feminino só foi permitido em 1945 na França e na Itália, em 1946 no Japão, em 1947 na Argentina, em 1948 na Bélgica, em 1949 no Chile, em 1954 no México, em 1957 na Colômbia e  em 1971 na Suíça, para citar apenas alguns. Portanto, contrariamente à sua opinião, estávamos socialmente bem avançados para a época, pelo menos no tocante às mulheres.

 3) A população negra não e é nem nunca foi maioria em nosso país. Não sei com base em que dados V.Exa. fez tal afirmativa, mas lamento informar que o erro foi grande. Segundo o IBGE, em 2003 o Brasil tinha 90 milhões de brancos, 10 milhões de negros e 72 milhões de pardos em um total de 173 milhões de pessoas, portanto os negros são apenas 5,78% da população, muito longe da maioria reivindicada por V.Exa.. Querer negros ocupando a maior parte dos cargos importantes da nação nessas circunstâncias, é abusar dos fatos. Os brancos são, e têm que ser, maioria em todos os lugares porque são maioria em população. É pura estatística, e não bobagens como superioridades raciais. Dados recentes, fartamente divulgados pela imprensa, afirmam que a população negra nas universidades é rigorosamente igual, em proporção, à sua população total, e no entanto, inventam as tais cotas raciais que mais se assemelham à vingança do que à justiça.

4) Quanto às dívidas sociais dos brancos com negros, elas não passam de um grosso equívoco de interpretação da história. Todos os negros que saíram da África para serem escravos em outros países já saíram de lá como escravos dos seus próprios povos. A escravidão nunca teve uma conotação racial e sim uma relação entre vencedores e vencidos, tanto que historicamente houve muito mais escravos brancos que negros. Se não quisermos ir muito longe, basta ler a Bíblia e verificar, por exemplo, que os hebreus foram escravos dos egípcios.

Desde que descobriram que o homem primordial saiu da África, não faz o menor sentido catalogar cores ou raças, assim como não faz sentido enaltecer sua consciência negra porque ela é igualzinha à minha branca. Faria muito mais sentido um Dia da Consciência Humana, igualando todo o mundo.

Não sei se conhece a letra de Imagine, de John Lennon, mas permita-me citar uma parte:

You may say that I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one

(Você pode me achar um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero algum dia que você se junte a nós
E o mundo será um só.)

Ou mesmo Stevie Wonder e Paul McCartney:

Ebony and ivory live together in perfect harmony
Side by side on my piano keyboard, oh lord why don’t we?

(Ébano e marfim vivem juntos em perfeita harmonia
Lado a lado no meu piano, oh Deus por que não nós?)

Esse sou eu, casado, 53 anos, 4 filhos e com muita vontade de colaborar para que pelo menos meus netos tenham um país melhor.

Um Abraço

Ricardo Froes

P.S.: V. Exa. trocou meu nome por Rogério no final do seu e-mail.
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Exma. Sra. Deputada Cida Diogo:

Eu cheguei a elogiá-la em meu blog pela resposta civilizada dada pelo seu chefe de gabinete à uma provocação minha sobre uma solicitação de V. Exa. para a realização de Sessão Solene Extraordinária em comemoração do Dia da Consciência Negra, mas passei por mentiroso ao antecipar uma resposta sua à minha réplica, onde contestei educadamente várias afirmativas absolutamente inverídicas sobre fatos históricos, mas parece que o Sr. Marcos Araujo não tem bagagem suficiente para sustentar uma discussão, pois além de desconhecer a História, ele assassina a Gramática e mostra desconsideração com o eleitor ao confundir meu nome e não responder ao meu e-mail, apesar de ter manifestado seu falso interesse em saber mais sobre mim.

Isso tudo até passaria sem maiores problemas, porque já estou calejado pela falta de consideração que a maioria dos políticos têm com seus eleitores, mas devo dizer que V. Exa. extrapolou os limites do ridículo e do bom-senso ao solicitar a realização de Sessão Solene Extraordinária em comemoração do Dia Mundial do Orgulho Gay e da Consciência Homossexual quando, segundo o Jornal do Brasil, haverá performances de transformistas famosas, como Rogéria, Lorna Washington e Andréa Gasparelli. Por acaso a ALERJ se transformou numa casa de shows ou já era? V. Exa. já se deu conta do absurdo que está promovendo? Como pode ser solene uma sessão com um bando de homens fantasiados de mulher?

Não fosse isso suficiente, o simples fato da promoção de festinhas, homenagens, sessões solenes pelos dias disso e daquilo, toma um tempo precioso em que seus pares poderiam estar resolvendo assuntos realmente importantes. Dignidade, deputada, é um atributo absolutamente necessário a quem ocupa um cargo como o seu, e não é gastando o dinheiro dos meus impostos com comemorações sem sentido, que V. Exa. vai adquiri-la.

E não me venha com argumentos que me associem a preconceitos porque sou bem claro quando digo que o importante é tratar dos interesses da população. Eu estaria reclamando do mesmo jeito se fosse uma homenagem ao Zé das Couves, ao Papa ou ao dono do boteco da esquina. Apenas fui enfático por achar que a ALERJ não é lugar para shows de travestis ou de quaisquer outros artistas. A Assembléia do Estado é lugar de trabalho.

Repito aqui a frase que disse para seu colega de bancada, o deputado Gilberto Palmares:

“Gostaria de pedir, como eleitor e contribuinte, e portanto como patrão de V. Exa., que deixasse de lado o oba-oba e tentasse fazer algo de produtivo”.

Grato

Ricardo Froes

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